SEIS POEMAS SOBRE CURA E VIDA ADULTA | DE VANESSA BRUNT
segunda-feira, dezembro 23, 2024POEMA 1:
Tem coisa que a gente só enxerga
quando se
distancia.
Tem barulho que a gente só percebe
quando (se)
muda.
Tem ferida que a gente só cura
se não acaricia.
Tem gente que a gente só salva
quando não ajuda.
Às vezes ficar imóvel é
agir em legítima defesa.
Às vezes é preciso parar
para poder (r)ir contra a correnteza.
Às vezes é só no silêncio
que se pode ouvir o estrondo.
Às vezes é só retirando
que se está realmente pondo.
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
Livro Deixar para lá também é bater de frente
POEMA 2: SUPERAÇÃO
Entre superar e esperar,
entre o talvez e a tal vez,
sou sempre da super ação.
Entre ser arte e fazer parte,
sigo na impopular fila
do desenho que é à mão.
Sempre vou preferir viver
de fim do que de não.
Não confundo dificuldade
com verdade e nem encontro
com esbarrão.
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
Livro Deixar para lá também é bater de frente
POEMA 3: ONDE TER RAZÃO
Não é o sofrimento que gera crescimento.
É o conhecimento.
Não preciso de nada que me ensine
através do descontentamento.
Por isso escolher as pessoas para as quais daremos o nosso tempo
é a forma mais real de controlar o nosso destino.
A maneira mais assertiva de amadurecer
é valorizando o cristalino.
Porque toda dor passa, mas o ter doído não.
A única coisa mais forte do que crescer
é já saber onde nem adianta ter razão.
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
POEMA 4: SIMPLESMENTE JÁ SABER
Se apresse lentamente.
Enlouqueça de forma sã.
Vá com tudo…
gradativamente.
Perca a fé de forma cristã.
Desista aos poucos,
para dar tempo de não desistir.
Abandone de vez o que só te segura quando cair.
Saiba quando fugir é ser corajoso.
Acredite piamente, sendo curioso.
A vida adulta é sobre isso.
Ser um lado sem perder
a outra parte.
Não ser egocêntrico e nem submisso,
jogar fora sem fazer descarte.
Estar quebrado e não partir ninguém.
Abrir mão do que te faz divertido
pelo que te faz bem.
Dar limites a tudo infinitamente.
Levar na brincadeira, seriamente.
E nem sempre tudo é tão possível.
Porque maturidade é também saber quando emburrecer.
Maturidade é não levar em conta o que é plausível,
quando se leva em conta o que você já sabe
sobre você.
E este é o principal segredo.
Muita gente não vai entender a sua decisão.
Mas é sobre olhar os capítulos anteriores.
No meio do filme algum mocinho pode ter
se tornado o vilão.
Só você sabe de tudo o que precisa saber.
A vida adulta não é sobre enrijecer.
Mas é sobre não ignorar.
É sobre pegar as coisas certas e se apegar.
Perceber que humilhação é sobre não ter nada a pedir.
A vida adulta é ficar em você mesmo
e sair daqui.
Não ser feliz o tempo inteiro para ser feliz de verdade.
Não ser tão livre na visão dos outros para ter a própria liberdade.
Tomar decisões não apenas por quem você é agora,
mas por quem você quer se tornar.
Quebrar algumas regras apenas para impor novas,
e para organizar.
Ter raiva de tudo sem deixar a prece.
Abrir mão do que se quer pelo que se merece.
Entender que não se sabe tanto, mas também entender quando já leu os sinais.
Prestar atenção nos padrões. Ter como referência a própria paz.
Maturar não é sobre tempo, mas sobre se autoconhecer.
Se eu fiz isto ou aquilo, na maior parte das vezes,
foi simplesmente, por re-viver.
Adultecer.
Se bastar e se saber.
Adultecer.
Se bastar é se saber.
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
POEMA 5: ES(COLHA) BEM O QUE CÁ, REGA
Se eu fiz isto ou aquilo, na maior parte das vezes,
Escolhas erradas doem mais depois.
Escolhas certas doem mais na hora.
A questão não é escolher qual dor
você quer amanhã ou qual vai sangrar outrora.
A questão é sempre qual pancada vai
levar a consequências piores
e qual roxidão é só sobre aquilo.
Mestre que é mestre
também abaixa a cabeça
para o pupilo.
No final, tudo é sobre o dê pois
e, para decidir, sempre penso se daqui
a cinco anos
vai importar tanto assim.
A melhor escolha não é a que dá mais certeza,
mas é sempre
a que dá algum fim.
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
Livro Deixar para lá também é bater de frente
POEMA 6: VOCÊ NÃO PRECISA VOLTAR LÁ
Se um tubarão arranca o seu braço no mar, você foge para a terra e foca em respirar e se salvar ou fica na água indo atrás do tubarão, querendo explicar o erro dele e tentando descobrir o motivo dele ter feito isto?
Se a chuva alaga a sua casa, precisará saber o motivo dela estar caindo, ou só por cair e molhar, será suficiente para que feche as janelas? Se tubarão mordeu em água rasa, já estará você partindo, ou ainda precisará mergulhar para explicar as dentadas em suas canelas?
História que não faz ferimentos graves não é também bonita se nos pontos positivos estão faltando pontos fundamentais. É como um filme de romance revolucionário: sem choro, mas também sem luta ou sem algo: amais! Histórias sem grandes decisões não são grandes histórias. Vitórias sem pequenas abdicações são sempre contraditórias. É que tudo move montanhas, menos o que já não se move. É que o amor não salva nada se não dá casaco porque vai-que-chove. Para fazer o ninho, passarinho deixa bastante de voar, mas assim ele tem para onde ir na tempestade. O destino que se cumpre é a abelha que se mata ou o pinguim que vive pela lealdade?
Precisaria a cobra picar novamente para deixar claro o seu perigo? Precisaria ficar sem teto, realmente, para valorizar abrigo?
Se o caco está no chão, só vai jogá-lo fora depois que esquecê-lo o suficiente para que se corte?
Se você já morreu naquele lugar, não acha que sair do túmulo para discursar...
diminuiria o peso da sua morte?
(Vanessa Brunt, @vanessabrunt)
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